Estava lendo um livro e uma historinha contada nele me deixou bastante emotiva. Já não sei se porque é muito bonita ou por causa da TPM, ou pelos dois... mas achei que seria muito legal dividir aqui com quem de vez em quando lê o Blog.
O testo é de W. Livingston Larned e aparece no BestSeller (já há 75 anos) Como Fazer amigos e influenciar pessoas de Dale Carnegie.
Segue o conto:
Ouve, filho: vou dizer-te isto enquanto dormes, com uma mãozinha debaixo da bochecha e os caracóis loiros colados à tua testa húmida. Entrei no teu quarto sorrateiramente. Há uns minutos, estava a ler o jornal no escritório, e de repente senti uma onda avassaladora de remorsos. Foi com um sentimento de culpa que me aproximei da tua cama.
Estas são as coisas em que fiquei a pensar, filho: fui ríspido contigo. Ralhei-te quando estavas a vestir-te para a escola porque não tinhas lavado bem a cara. Ralhei porque não tinhas os sapatos limpos. Zanguei-me quando atiraste algumas coisas para o chão.
Ao pequeno-almoço descobri mais falhas. Entornaste as coisas. Engoliste a comida sem mastigar. Puseste os cotovelos na mesa. Barraste o pão com demasiada manteiga. E quando te afastaste para ir brincar, e eu me dirigi para o comboio, viraste-te e acenaste com a mão dizendo: “Adeus Pai!”, e eu franzi o sobrolho e respondi: “Endireita as costas.”
Depois tudo recomeçou ao fim da tarde. Fui para a rua vigiar-te, quando estavas de joelhos a jogar ao berlinde. Tinhas as meias rotas. Humilhei-te à frente dos teus amigos, levando-te para casa à minha frente. As meias são caras e se tivesses de as comprar serias mais cuidadoso. Imagina isto, filho, dito por um pai!
Lembras-te quando eu, mais tarde, estava no escritório a ler, e tu entraste timidamente, com um olhar magoado? Quando olhei por cima do jornal, incomodado pela interrupção, ficaste hesitante no umbral da porta. “O que queres?”, lancei.
Não disseste nada, mas correste para mim impulsivamente e atiraste os braços à volta do meu pescoço e deste-me beijos, com os teus bracitos a apertarem-me com o amor que Deus fez brilhar no teu coração, e que mesmo a minha falta de atenção não conseguiu fazer esmorecer. E depois correste escadas acima.
Bem, filho, pouco depois o jornal escorregou das minhas mãos e senti-me terrivelmente mal. Como é que entrei nesta rotina?
A rotina de apontar falhas, reprimendas – era a minha recompensa por seres criança. Não deixei de te amar, mas tinha expectativas demasiado elevadas para a tua infância.
Estava a avaliar-te pela medida da minha idade.
E havia tanta coisa boa, perfeita e autêntica no teu carácter.
O teu pequeno coração era tão grande quanto a alvorada que se levanta por detrás de enormes montanhas. Demonstraste-o com o impulso espontâneo de vires despedir-te antes de ires dormir.
Nada mais interessa, filho. Vim para a tua cabeceira no escuro, e ajoelhei-me perto de ti, envergonhado!
È uma tentativa fraca de expiação: sei que não perceberias estas coisas se as dissesse durante o dia. Mas amanhã vou ser um verdadeiro pai! Vou ser o teu companheiro, sofrer quando sofres, rir quando ris. Vou morder a língua quando tiver palavras impacientes. Vou repetir para mim mesmo, como num ritual: “É apenas um rapaz, um rapazinho!”
Receio bem ter-te olhado como um homem. Mas quando te vejo agora, filho. Enrolado e sereno na tua caminha, vejo que ainda és um bebé. Ainda ontem estavas ao colo da tua mãe, com a cabeça no seu ombro. Pedi-te demasiado, demasiado.